|
|
|
Escrito por O Estado de S.Paulo - 29/11/2011 |
Não é o que vem ocorrendo. A produção e a
exportação brasileira se encontram praticamente paralisadas há 10 anos, o
que é atribuído à estagnação do mercado e agora à crise internacional,
como se produtores que respondem por 3/5 do consumo mundial do suco nada
tivessem que ver com o problema da demanda.
Independentemente
de fatores externos, a situação no pomar não é nada confortável. A
incidência de doenças, os custos de produção e os conflitos entre
citricultores e processadores têm aumentado e aos poucos vão erodindo os
ganhos de competitividade que tiveram no passado. Pior ainda, o padrão
produtivo "conflitivo-concentrador", além de travar o dinamismo da
cadeia, tem impactos sociais e econômicos indesejáveis nas regiões onde a
laranja é fonte de ocupação, renda e riqueza.
É intrigante que tudo isso ocorra num cenário de boas perspectivas no mercado de sucos em países emergentes.
O
quadro conflituoso entre citricultores e processadores não é novo. Data
da década de 1990, quando as empresas esmagadoras foram impelidas pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a cessarem condutas
anticompetitivas no mercado de laranja. Em 2006 a Operação Fanta, da
Polícia Federal, recolheu supostas provas de continuidade do conluio
entre as empresas processadoras para controlar o mercado de laranja em
prejuízo dos citricultores.
À
imprensa citricultores se dizem lesados por quebras contratuais; alguns
demandam indenizações e aguardam uma decisão do Cade a respeito do
processo de cartel. O sentimento entre muitos é de que a atividade se
tornou extremamente arriscada e inviável. Implantar e manter um pomar
custa caro, o investimento é de longo prazo e a receita é muito incerta,
pois depende de preços extremamente voláteis, cuja formação é
desprovida de transparência.
Com
esse nível de expectativas, não é de estranhar que belos pomares do
interior de São Paulo estejam sendo substituídos por cana, provocando
concentração nos dois segmentos, que hoje sofrem com investimentos
insuficientes, elevação de custos e incertezas institucionais.
Está
cada vez mais claro que a sustentabilidade dos negócios depende hoje, e
cada vez mais no futuro, de sanção da sociedade, e que a eficiência
técnica é cada vez mais dependente da governança social que regula a
atividade.
Conflitos
entre produtores, trabalhadores e agroindústrias talvez venham a ser o
calcanhar de aquiles do agronegócio brasileiro, causa de ineficiências e
obstáculos mais importante que o déficit de infraestrutura, que se
resolve facilmente com racionalidade pública e institucional para
incentivar investimentos na área.
Além
da bactéria do greening, o ambiente da citricultura brasileira parece
atacado pelos vírus da desconfiança, risco de exclusão e impunidades.
Preocupados com esses aspectos, lideranças do setor resolveram criar um
conselho, o Consecitrus, nos moldes do Consecana, cujo objetivo é
estabelecer consenso em torno de novas bases para o funcionamento do
mercado de laranja.
A iniciativa é louvável, mas ameaça incluir apenas o grupo dos maiores produtores e processadores.
O
modelo concentrador é insustentável e indesejável num país que busca
reparar o seu passado com políticas de inclusão social, valorização do
trabalhador e do meio ambiente.
A
criação de conselhos e a nova direção anunciada pelo governo para as
políticas agrícolas são positivas. Entretanto, resultados sustentáveis
somente serão alcançados se os fóruns abarcarem não apenas grandes
produtores rurais e capitães da indústria, mas também produtores e
trabalhadores que se encontram ameaçados de exclusão, transformando-se
assim em verdadeira instância de negociação, e não de imposição de
soluções.
Fonte: O Estado de São Paulo
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário